terça-feira, 13 de outubro de 2009

Miguel Street

Autor: V. S. Naipaul 
Editora: Dom Quixote 
Páginas: 216 
ISBN: 972-20-2305-5 
Tradução: Sofia Slotboom

Sinopse: Um íman para poetas, filósofos, professores, trovadores e inadaptados que povoam a colorida e agitada cidade de Port of Spain, Miguel Street é um lugar onde histórias de glória e devassidão rivalizam com solenes declarações de amor e ódios ferozes, onde os dramas vizinhos são discutidos com paixão e prolixamente partilhados por todos, às vezes numa linguagem fluente, outras num acalorado "patois", mas sempre com o sol brilhante e abrasador como pano de fundo.

Opinião: Não é fácil "opinar" sobre Miguel Street - V. S. Naipaul venceu o Nobel em 2001, o que não deve ser menosprezado. Não tenho um "tipo" de literatura preferido e sou uma leitora que se deixa seduzir por uma boa história (é nessas alturas que se torna evidente que as sinopses são as melhores amigas das editoras). Quer queiramos, quer não, todos partimos para cada leitura com uma ideia preconcebida; eu peguei em Miguel Street, li a sinopse, que considerei tão pitoresca como a própria Miguel Street se veio a revelar, mas fiquei desconfiada, pois todo o peso do reconhecimento internacional que o Nobel concede a um autor deixa sempre em mim o medo de "não ver tão longe" e de "não perceber".
 No entanto, ter lido Miguel Street foi das melhores decisões literárias que podia ter tomado. V. S. Naipaul conta histórias complicadas de uma maneira simples e o que mais me impressionou (e cativou) foi precisamente a relação entre economia de palavras e densidade da narrativa.

O livro retrata a vida numa pequena rua da capital de Trinidad, nos anos 40. O retrato acaba por ser hiperbolizado e ficamos sem saber porquê: se pelo facto de a história ser narrada por um rapaz (muito novo, por sinal) ou se pelo posicionamento periférico da própria ilha relativamente à geopolítica de então. Passo a explicar:
  • Por um lado, Miguel Street é, inconfundivelmente, uma obra auto-biográfica; se partirmos do princípio de que os olhos da criança que narra a história são, em parte, os de Naipaul que viveu em Trinidad, então compreende-se porque é que as características dos vários vizinhos são apresentadas com tantos exageros e com uma certa dose de ingenuidade;
  • Por outro, em plena II Guerra Mundial, numa parte do mundo dominada pela hegemonia norte-americana, aquela é uma ilha secundária, cujo ritmo de vida era "mais lento", menos consequente, muito ao estilo do estereótipo que se formou relativamente ao quotidiano das Caraíbas. As vidas que Naipaul nos relata são inconsequentes (não existem grandes expectativas ou objectivos supremos), líricas, coloridas, boémias, mas também melancólicas e reais à sua maneira.
O livro divide-se em pequenos capítulos, correspondendo cada um à história de cada um desses peculiares vizinhos, cujas vidas estão entrelaçadas devido a essa coexistência. É uma leitura leve (e até divertida!), mas que não deixa, aqui e ali, de nos fazer pensar nalgumas inevitabilidades da natureza humana.
 Miguel Street levou-me, acima de tudo, a encontrar outro escritor favorito, razão pela qual estão em lista de espera outras obras: Uma Vida pela Metade, Sementes Mágicas e Uma Casa para Mr. Biswas.
Classificação: Excelente (9/10)

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