terça-feira, 3 de novembro de 2009

Alex e Eu

Autor: Irene M. Pepperberg
Título original: Alex & Me
Editora: Caderno

Páginas: 215
ISBN: 9789892305929
Tradução: Maria Eduarda Colares



Sinopse: Quando Alex morreu, aos 31 anos, a notícia correu mundo, relatada pelas rádios e televisões, evocada em obituários de publicações tão prestigiadas como a Economist ou o New York Times.

Alex, afinal, era um papagaio muito especial. Falava como gente grande, mais de 150 palavras, conhecia números, cores, formas, pensava pela sua própria cabeça, até fazia contas de somar. Tinha aprendido tudo isso com Irene Pepperberg, uma cientista brilhante que passou trinta anos ao seu lado, a ensiná-lo, a estudar-lhe cada gesto, a registar cada novo progresso.

Em Alex e Eu, Irene conta a história que nunca apareceu nos jornais. Fala da sua relação afectiva com um papagaio extraordinário, recorda um quotidiano feito de saudades, de birras, de momentos de ternura ou de ataques de ciúmes. E do modo como, todas as noites, antes de se deitar, ela perguntava ao seu amigo: "Estarás cá amanhã?" Ao que ele respondia, fielmente: "Sim, amanhã estarei aqui. Porta-te bem. Gosto muito de ti."


Opinião: Estão na moda os livros que narram as relações entre pessoas e animais. Uns dão óptimos filmes para um sábado à tarde, como Marley & Me, e outros enchem-nos a alma, como Um Leão Chamado Christian (ler crítica aqui). Este livro Alex e Eu é, num certo sentido, completamente diferente de todos esses inúmeros romances em torno de animais, porque Alex não era um animal de estimação, mas sim um papagaio que foi adquirido com o objectivo de comprovar cientificamente, através de testes exaustivos, que esta espécie tinha capacidade cognitiva para adquirir linguagem (e não só «papaguear»).





Como se pode ver no vídeo, Alex não só adquiriu conceptualmente rudimentos linguísticos como também tinha capacidade para os aplicar consoante a situação que lhe era apresentada. Explicando de uma forma mais simples, a autora conseguiu comprovar através do seu trabalho com um papagaio cinzento africano que não são só os humanos (ou as variantes das espécies que deram origem ao Homo Sapiens) que conseguem identificar um objecto e traduzir esse reconhecimento através de conceitos.
O que é de facto extraordinário é que Alex foi muito mais longe do que se esperava e no final da sua (curta) vida tinha a inteligência de uma criança de 5 anos. Nas palavras da autora:

"Dizia-se que as aves não podiam aprender vocábulos correspondendo a objectos. O Alex aprendeu. Está bem, mas as aves não são capazes de aprender a generalizar. O Alex aprendeu. Tudo bem, mas nao conseguem aprender conceitos. O Alex aprendeu. Sim, mas o que eles não conseguem é distinguir «igual» de «diferente». O Alex conseguir. E por aí fora".

Gostei imenso de ler esta história, nomeadamente porque ela acaba também por ser a de Irene M. Pepperberg, uma doutorada em Química Teórica que se rendeu à paixão antiga pelas aves e decidiu fazer dela o seu projecto de vida. É de sublinhar que, para alguém que tem formação nas chamadas ciências «duras», Irene se revelou uma excelente escritora. A óptima tradução que foi feita também ajuda, mas a autora conseguiu distanciar-se do discurso dito científico e apresentar os resultados do seu trabalho num discurso fluído e, muitas vezes, divertido. Grande parte dos frutos desta investigação estão publicados em Estudos sobre Alex, uma obra publicada em colaboração com a Oxford University Press. No entanto, Irene conseguiu levar as suas conclusões ao grande público, nunca aborrecendo o leitor com pormenores demasiado técnicos (ou mesmo incompreensíveis). Apresenta-nos um papagaio cheio de personalidade, doce e meigo, mas também traquinas e muito «mandão» - o «patrão» do laboratório. Só por essa vertente mais «humana», o livro vale a pena.

Outro aspecto muito interessante é o facto de nesta obra estar retratado o mundo norte-americano da investigação. Enquanto estudante universitária dei comigo a pensar mais do que uma vez: "se estivesse nos EUA já me tinham dado colocação ou, pelo menos, uma bolsa de investigação avultada". Pelos vistos estava enganada... é incrível acompanhar todas as dificuldades que Irene enfrentou para conseguir concretizar o seu projecto, muitas vezes quase gorado devido à falta de financiamento ou, pura e simplesmente, à falta de emprego dentro do sistema universitário. Valeu por esse "abrir" de olhos e pela oportunidade de conhecer mais de perto um sistema tão competitivo como é este que engloba a mundo da investigação científica.
Classificação: Bom (7/10)

6 comentários:

Tinkerbell disse...

faz-me lembrar o papagaio do filme paulie que vi quando era pequena :)

bjs e boas leituras**

JM disse...

Bem lembrado =) Esse filme é muito giro!!

Bjs***

flicka disse...

Depois de ler a tua opinião, fiquei com muita vontade de ler este livro! Para além de adorar animais, gostava de saber como é que esta cientista conseguiu realizar o seu maior projecto com todas as dificuldades que teve como a falta de dinheiro ou a falta de emprego dentro do sistema universitário... Sem dúvida, uma grande mulher! A ler, então! :)
Bjitos

Jojo disse...

Parece ser muito engraçado.O problema é que tenho uma pilha interminável aqui em casa de livros. E entre eles está o do Christian que vou dar prioridade por ter amado a tua crítica. Emprestei-o a uma amiga e ela está a adorar.

Bjoka*

JM disse...

Entre os dois também daria prioridade ao Christian =) É das histórias mais ternurentas com que me tenho deparado! Este é mais "terra à terra", embora seja notório que Irene tinha uma paixão enorme pelo Alex, embora esse sentimento só se tenha tornado real para ela quando ele morreu.

Bjs***

JM disse...

Se quiseres, deixei lá outro para ti... :)

PS: Estou cheia de vontade de ler "A Talentosa Flavia de Luce". Cada vez que passo por aqui lembro-me =)