segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Império dos Pardais

Autor: João Paulo Oliveira e Costa
Editora: Temas e Debates
Páginas: 520
ISBN: 9789727599936

Sinopse: Espionagem, intriga, amor e traição. Um vertiginoso romance histórico a levar-nos a uma das mais emocionantes cidades dos séculos XV-XVI: Lisboa. Descobrira-se o Novo Mundo, armadas partiam para a Índia, chegavam especiarias, ouro, novidades, escravos, viajantes e homens de negócios de todos os recantos do globo. É a essa cidade de esplendor e riqueza humana que este romance nos leva revelando a secreta rede espiões que mantinha o rei informado. Partindo da história de uma mulher que o tempo azedou, a sua vida cruza-se com os mais próximos homens do rei D. Manuel. Violante é o epicentro do livro: violenta, visceral e amarga, acaba por descobrir que pode ainda amar e mudar a sua vida.

Opinião: Tenho um interesse muito particular pela História (área em que sou licenciada) e, mais especificamente, pela História dos Descobrimentos e da Expansão / História Marítima (área em que estou a fazer Mestrado). Dito isto, é compreensível que tivesse grandes expectativas em torno de O Império dos Pardais, acrescendo ainda o facto de João Paulo Oliveira e Costa ser uma autoridade nestes assuntos: doutor em História e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;  director do Centro de História de Além-Mar; e membro da Direcção do Centro de Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, entre outros.

A sinopse diz tudo o que é possível dizer acerca de O Império dos Pardais sem revelar demasiado, pois tratando-se de um thriler histórico as várias partes que compõem a história estão de tal forma encadeadas que explicar aqui porque é que, por exemplo, Violante é a personagem central do romance era arruinar por completo a surpresa com que o leitor se depara ao descobrir a sua importância fulcral no desenrolar dos acontecimentos.

João Paulo Oliveira e Costa consegue o que considero ser uma proeza assinalável:
  • Afastou-se dos modelos rígidos e rigorosos a que está sujeita toda e qualquer investigação histórica, que se rege pelos critérios da metodologia do trabalho científico;
  • Criou uma narrativa fluída e estimulante, que não contém os entraves que a exposição exaustiva de factos históricos poderia trazer; 
  • Levou ao leitor comum os meandros do (estimulante) reinado de D. Manuel, muito enfabulados é certo; recriou com sucesso o ambiente da época, descrevendo o quotidiano da cidade de Lisboa, e não descurou a centralidade de Portugal no contexto da expansão europeia ultramarina.
Dito isto, o livro não serve para quem quer fazer uma aproximação à história quinhentista (para isso são aconselháveis outras publicações do autor, como a biografia de D. Manuel I, publicada pela Temas e Debates, ou o mais recente livro Henrique, o Infante, publicado pela Esfera dos Livros). A obra destina-se, obviamente, a quem gosta de romances históricos, mas, como já referi anteriormente, não é factológica.
Por essa razão, é possível que o leitor fique com a sensação de que a escrita de João Paulo Oliveira e Costa é naif. Discordo. Acho que a ingenuidade que transparece na narrativa se deve ao facto de o autor ter a consciência de que se lá colocasse tudo o que sabe acerca do reinado de D. Manuel I o leitor fecharia o livro após o primeiro capítulo. Foi pelo menos essa a sensação que tive sempre que li as obras do "aclamado" jornalista José Rodrigues dos Santos, cuja obcessão pelos factos históricos me parece relacionada com uma certa insegurança quanto à sua capacidade para construir um universo plausível em torno de uma matéria-prima normalmente trabalhada pelos historiadores.
Assim, considero que o livro só ganha pelo facto de João Paulo Oliveira e Costa não ter «complexos» (nem de inferioridade nem de superioridade), mas sim o discernimento de apresentar ao leitor os pormenores mais pitorescos do reinado de D. Manuel I em particular e da época quinhentista em geral.

Por fim, queria só salientar que considero o título absolutamente genial, pois sintetiza o conceito de império que está subjacente à expansão ultramarina portuguesa, muito mais assente em poderes informais do que submetida a um controlo centralizado. Assim, aqui fica um excerto:
 "O Rossio animava-se com o movimento das pessoas. Um bando de pombos esvoaçava incomodado por umas gaivotas atrevidas que haviam deixado a proximidade do Tejo para entrar nos seus domínios; pequenos pardais aproveitavam aquele alvoroço para debicar migalhas perdidas pelo chão, ocupando por sua conta uma das esquinas da praça e espalhando-se por algumas ruas laterais. Miguel observava aqueles pequenitos vivaços que evitavam os conflitos entre os maiores e que se fortaleciam enquanto os outros se desgastavam. Com um sorriso nos lábios pensava: «É assim que os pardais constroem seus impérios»."
 Classificação: Muito Bom (8/10)


3 comentários:

Célia disse...

Ora aqui está um livro que me interessou com o comentário da White Lady (http://estemeucantinho.blogspot.com/) e que agora confirmei que realmente me interessa. Gosto muito de História, mas tenho lido pouco sobre a história do nosso país. Obrigada pela sugestão :)

JM disse...

Vale a pena porque o facto de o J. P. Oliveira e Costa dominar tão bem a época em questão não te "maça" com o peso todo da História. Sobram as pequenas histórias e a humanização de D. Manuel (e da nobreza portuguesa em geral).
E é "giro" :)

WhiteLady3 disse...

Gostava apenas de agradecer o comentário no meu blog e dizer que concordo com a tua opinião, nomeadamente no que toca à comparação com José Rodrigues dos Santos. Só li o Codex 632 e realmente parece haver alguma obsessão. Lembro-me de por vezes o colocar de lado após um capítulo a debitar História ou de pensar, um pouco desesperada, "oh não, mais História não!!!" :D