quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Catarina de Aragão - A Princesa Determinada



Autor: Philippa Gregory
Título original: The Constant Princess
Editora: Civilização
Páginas: 451
ISBN:
972-26-2455-5
Tradução: Maria Beatriz Sequeira


Sinopse: Catarina de Aragão nasce Catarina, Infanta da Espanha, de pais que eram reis cruzados. Aos três anos foi prometida ao príncipe Artur, filho e herdeiro de Henrique VII da Inglaterra, e é educada para ser princesa de Gales. Sabe que o seu destino é reinar sobre aquela terra distante, húmida e fria. A sua fé é posta à prova quando o futuro sogro a recebe no seu novo país com uma grande afronta; Artur parece ser pouco mais do que uma criança; a comida é estranha e os costumes vulgares. Lentamente, adapta-se à sua primeira corte Tudor, e a vida como mulher de Artur vai-se tornando mais suportável. Inesperadamente, neste casamento arranjado começa a nascer um amor terno e apaixonado. Mas, quando o jovem Artur morre, ela tem de construir o seu próprio futuro: como pode agora ser rainha da Inglaterra e fundar uma dinastia? Só casando com o irmão mais novo de Artur, o alegre, mas mimado Henrique. O pai e a avó de Henrique são contra e os poderosos progenitores de Catarina revelam-se de pouca utilidade. No entanto, Catarina possui um espírito lutador é indomável e fará qualquer coisa para alcançar o seu objectivo; mesmo que tal implique contar a maior das mentiras e mantê-la.

Opinião: O romance histórico é um dos maus géneros literários favoritos, mas nunca tinha lido Philippa Gregory; apenas tinha visto a adaptação no cinema do seu livro Duas Irmãs, Um Rei, com muita pena minha, aliás, porque normalmente se vejo o filme já não consigo ler o livro por conhecimento integral da história - excepto quando se trata de O Senhor dos Anéis :)

É sempre bom relembrar que o romance histórico é precisamente isso: um romance. Não me preocupei, tal como nunca me preocupo nestas situações, em encontrar potenciais incorrecções na História, embora tenha que fazer um apontamento nesse sentido. A autora relegou para segundo plano (ou mesmo terceiro) o reino de Portugal, só referido a propósito de casamentos reais. A acção de Catarina de Aragão - A Princesa Determinada ainda não contempla a existência do Imperador Carlos V, cujo poderio acabou por ofuscar por completo o seu vizinho ibérico (contexto em que era compreensível relegar a preponderância do nosso reino na conjuntura de então). No entanto, quando Philippa Gregory se refere à vontade de uma Espanha ainda em construção fazer a Cruzada contra os mouros, esquece, por completo, que o mesmo estava a ser feito por parte de D. Manuel, nomeadamente nas praças do Norte de África (não estando aqui em questão se foram incursões militares mal ou bem sucedidas). Nem sequer ponho em causa a falta de cultura histórica da autora, apenas quis assinlar o que me pareceu ser a manifestação da mundividência britânica que sempre percepcionou o reino português enquanto uma formação política periférica nos jogos de poder da (grande) Europa.

Posto isto, vamos ao que interessa. Fazendo uma apreciação global, esta é uma obra muito interessante, que conta a história de uma princesa espanhola que desde menina estava destinada a ser Rainha de Inglaterra. A escrita é muito simples e directa e nem por um momento a autora se perde em grandes contextualizações históricas.
A história de Catarina é contada por uma mulher, o que explica que a atenção esteja focada nos amores e desamores, nas intrigas de alcova, nos atritos entre cortesãs e cortesãos e nos sentimentos. Nem por isso o livro perde. Gregory é uma grande contadora de histórias e consegue perfeitamente transportar o leitor para aquela realidade: apeteceu-me dar concelhos à jovem e mimada Catarina, afligi-me com o seu sofrimento após a morte do seu marido (e amor) e congratulei-me por ter conseguido cumprir o seu objectivo após tantas adversidades e tornar-se Rainha de Inglaterra.

Adorei o facto de ser estabelecida uma dicotomia tão grande entre o estilo de vida ibérico e o inglês. Em terras espanholas, Catarina vivia como uma autêntica moura cristã, em palácios construídos para serem bonitos, alegres, quentes, cheios de vida e cor. Em Inglaterra estanhou o facto de os ingleses não tomarem banho regularmente e, principalmente, o de estar sempre frio, já que o clima era húmido e agreste.

Sendo esta uma visão marcadamente feminina dos acontecimentos, agradou-me que a autora tenha incluído (nas ultimas 50 páginas, é certo) alguns pormenores de cariz mais militarista. As descrições de Catarina enquanto Rainha/Guerreira são muitissímo interessantes, nomeadamente porque corroboram a grande estratega militar que relevou ser - foi efectivamente ela que liderou a ofensiva militar que ditou a morte de Jaime da Escócia. Enquanto apaixonada pela História Marítima que sou, também me agradou a pequena incursão que a autora fez nesses domínios, dando a ideia de que já nesta época Inglaterra começava a dar os primeiros (mas pequenos) passos para se tornar a potência naval que seria no futuro.

Já gostei menos das constantes alusões à religião. A narrativa é intercalada com os próprios pensamentos de Catarina, os quais, infelizmente, não são mais do que uma súmula de súplicas a um Deus que não atende os pedidos de uma mulher profundamente convencida de que tudo na sua vida é regido pela vontade divina. Não me interpretem mal. Não se trata de uma crítica à religião; apenas me pareceu que Gregory exagerou e que podia ter aproveitado de melhor forma este «canal de comunicação» que abriu entre a personagem principal e o leitor.

Ainda assim, a obra tens mais aspectos positivos do que negativos. Para os fans da narrativa de Philippa Gregory é muito útil enquanto enquadramento para outros dos seus livros, nomeadamente A Outra Rainha e Duas Irmãs, Um Rei. O leitor compreenderá melhor a dimensão desta última obra se ler esta sobre Catarina, na medida em que pode acompanhar o crescimento e amadurecimento do pequeno Henrique e compreender melhor a figura do homem que se tornou Henrique VIII.
Em suma, fiquei convicta de que Philippa Gregory é uma grande contadora de histórias e tenho a certeza de que este foi o primeiro de outros romances seus que irei ler.
Classificação: Muito Bom (8/10)

3 comentários:

Jojo disse...

Olá!
Eu quero muito experimentar esta escritora.Sou uma apaixonada pela época Tudor.

Bj*

JM disse...

Por acaso também tinha alguma curiosidade.. Tinha lido algumas críticas desfavoráveis relativamente a este livro, no sentido de a narrativa ser repetitiva a pouco emocionante. No entanto, pareceu-me um bom ponto de partida para a leitura de outras obras da autora, porque, como referi, permite compreender algumas personalidades que surgem noutros volumes.

Bjs* :)

Jojo disse...

Vou ver se o arranjo.;)